29/07/2015

Memórias - Feijão verde

Não recordo nada, que possa ser a primeira memória com feijão verde, pois ocorrem várias em simultâneo, sem qualquer ordem, mas todas relacionadas com os meus Avós maternos e a Cerca de Santo António em Torres Novas.

Foi de feijão verde, a primeira sopa fria que comi, muitas vezes com pedras de gelo adicionadas já na mesa. Uma sopa normal de feijão verde e cenoura, que eu nem gostava muito, mas que nesta versão de verão era outra coisa. Um mistério e uma brincadeira, quando as pedras de gelo diminuiam de tamanho e acabavam na boca, como se fossem gelados.

- Oh João, vai buscar um bocadinho de segurelha se fazes favor! dizia a minha Avó Celeste e isso era sinal de sopa de feijão verde, claro.

Durante muitos anos após a morte da minha Avó, perdi o rasto à segurelha até um dia uma colega de emprego(na IBM) me dizer que na Madeira usavam segurelha na açorda. Depois perdi o rasto a essa colega (Susana) que era linda, mas voltou para a sua ilha.

O meu avô tinha sempre feijão verde a crescer pelas canas acima, e se hoje isso não é motivo de espanto, então para mim tudo era novo e, lisboeta que sou, percebia de coisas como andar à pendura nos eléctricos e saltar deles em andamento, mas de agricultura não sabia nada e o pouco que fui descobrindo, veio de ver e ajudar o meu Avô. 
Portanto, o feijão a trepar pelas canas era coisa de espantar e continua a ser.

Mas espanto maior, foram os peixinhos da horta que a minha Avó tão bem fazia. Mal se adivinhava o feijão, naquele disfarce e para a minha imaginação, era muito mais engraçado pensar que poderiam mesmo ser peixes! Com estes fritos, que nesse tempo não eram uma entrada, mas sim o contraponto para o tal arroz de tomate(sem caldo) e a indispensável salada de tomate.
Almoços de verão que eu muitas vezes partilhei apenas com os meus Avós, mas noutras alturas com a casa cheia de tios e primos que apareciam de todos os lados para encher cada cama, cada cadeira, cada recanto. Bons tempos esses.

Portanto, esta aprendizagem do feijão verde veio aos poucos e foi consolidada com uma salada que a minha avó fazia e eu recordo e repito com saudade e carinho. É uma coisa muito simples.
Ao feijão verde inteiro, cozido e frio, juntam-se meias-luas de cebola, rodelas de ovo cozido, sal, azeite e vinagre. Para acabar salpica-se com salsa e é uma delícia, pelo menos para mim.

Demorei tempo a perceber que o feijão verde, amadurecia e passava a feijão de debulhar e depois ao feijão seco da sopa e das feijoadas. Sei que é assim, mas é como se não fosse. O verde que trepa pelas canas que o meu Avô colocava como se de tendas de índios se tratasse, é diferente. Quem sabe se não trepará até chegar às nuvens como na história?

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