09/07/2018

Exame em duas partes


E assim acabou o 2º semestre do curso.

 Aquilo que de início parecia longínquo, está a acontecer diariamente.
Agora seguem-se 2 meses de estágio, que no meu caso, será num sítio que muitas vezes louvei, o restaurante  Boi-Cavalo em Alfama. Passar de cliente para cozinheiro ainda parece um sonho, mas já é  quase a  realidade, pois começo dia 15.

Entretanto, dos muitos exames que fiz, um destacou-se, pelo gosto e empenho que senti e nele apliquei.  Foi longo, cansativo e, em meu entender, um sucesso, seja qual for a nota que venha a ter.

Tínhamos 2 provas para completar. Na primeira, era-nos imposto o pato e na segunda bacalhau. O prato de bacalhau tinha de ter sabores Portugueses, e se fosse a reprodução dum prato tradicional, deveria ser rigoroso, já o pato da manhã era do género prova livre, em que cada um fazia o que muito bem entendesse.

Para esta (a do pato), porque imaginei que teríamos uma profusão cansativa de "magret de cannard ",  fui pesquisar e tropecei num "Pato acebichado" que me atraíu. Parecia diferente, e apesar de convidar ao logro, pelo uso da palavra ceviche, que fez alguns perguntarem se iria ser pato cru, era um prato simples de pato na panela, marinado numa quantidade grande se sumo de citrinos.    

Fiz um teste em casa substituindo os ajis (mirasol e amarillo) por mini pimento amarelo e malagueta e as "naranjas agrias" por uma mistura de sumos de laranja e limão. Sem jamais ter experimentado o prato original, fiquei contente com o resultado do teste e decidi ir por essa via. Acompanhei com batata doce, por ser um acompanhamento frequente no Peru e além disso um que me agrada bastante.

Durante a prova, cada aluno tinha direito a 1/4 de pato e eu escolhi uma das pernas. Com o resto do meu pato e uns pedaços recolhidos entre os colegas, fiz um caldo, que levou os suspeitos do costume.  Cebola, cenoura,aipo, alho, louro, sal e pimenta , a que depois se juntaria uma Sagres mini (comprada no café em frente à escola). O prato peruano leva "Chicha de jora", uma bebida típica, feita de milho, sendo  a cerveja, um substituto possível. Pareceu-me que o travo amargo era excessivo e quando voltar a fazer este p(r)ato usarei vinho branco.
Marinei a perna com o sumo de 1 laranja a que juntei 1 limão (para dar o toque ágrio), 1 colher de chá com cominhos moídos, pimenta, colorau, malagueta em pó, 1 cebola picada, 1 dente de alho. Ficou assim por 30 minutos, enquanto fazia o caldo e preparava  a batata doce que descasquei, torneei  e branqueei para no final, antes de servir,  saltear.
Uma vez marinada a carne, escorri o líquido e alourei a perna em azeite e manteiga. Feito isto, juntei um pouco mais de cominhos, 2 mini pimentos amarelos e toda a marinada, para que  o conjunto cozinhasse  tapado durante 30/35 minutos. Quando senti a carne macia, retirei-a e juntei um copo cheio do caldo antes preparado e que incluía a cerveja. Seguindo as instruções, acrescentei 1 cebola roxa (ou "morada" como se diz por lá) cortada em rodelas finas, e mantive ao lume por mais uns 30 minutos. No final, antes de servir, a carne voltou para a panela e, uma vez tudo à temperatura desejada, empratei e servi.

Nesse altura cometi um erro que depois o Chef sublinhou. O molho devia ter sido servido apenas à mesa, para não se espalhar pelo prato (como sucedeu), "mas está bom..." foi o comentário final.  
Escutar um comentário do tipo "está bom" é o objectivo de todos nós, e qualquer extra pode ser a glória ou o desânimo, mas nada mais ouvi e retirei-me com um sorriso. O meu prato da manhã foi feito de acordo com as minhas expectativas.  

Seguiu-se o bacalhau.