27/07/2016

3 restaurantes



Tenho falhado nas escritas. Será do calor, da praia, dos livros que tenho para ler…
Será tudo isso e a falta daquela chispa, que me faz querer deitar cá para fora, coisas que me enchem a cabeça.  No entanto estive nos meus 2 restaurantes preferidos e ainda num onde nunca tinha ido antes, e é isso que tenho para contar.

Noélia, em Junho 

Na semana final de Junho, fui várias vezes almoçar à Noélia.  Aí, eu e a minha filha, apenas praticamos o almoço. A luz é linda, o ambiente é mais calmo, o stress ainda não fez vítimas, tudo corre melhor e por isso sabe melhor. 
Como eu e a menina vamos cedo para a praia, chegando ao meio-dia, já um de nós se põe nervoso e a picar o outro para que se despache, naqueles sacudir de toalhas, arrumar tudo e arrastar os pés na areia quente, até ao barco, que nos leva sobre a ria, para chegar ao destino ansiado.

Chegando à mesa, ainda a sacudir sal e areia, tudo é maravilhoso e irresistível a começar pelo conjunto pão, manteiga de alho, cenouras à algarvia e azeitonas temperadas. Tentamos não comer  para manter intacto o desejo, mas é em vão, pois o aroma do pão é quem mais ordena. Vemos passar os pratos, escutamos a Noélia, espreitamos as sobremesas, até que começa o desfile de delícias.

Nesta semana comemos salmorejo, fritada mista com migas de tomate, tártaro de ostra 1, tártaro de ostra 2, ceviche de robalo, arroz de corvina e ameijoas (Vai pedir o arroz? julguei que já o sabia fazer!  disse-me a Noélia, e realmente eu tenho uma ideia, mas nunca chega àquele sabor), arroz negro com gamba vermelha, o novo e já famoso mergulho na ria (comido e repetido), polvo frito com batata doce, tártaro de atum e mais brincadeiras com os figos que a minha filha adora, mojama, queijo, etc. Tudo coisas que já identificamos como os sabores da Noélia, a qual tem essa magia de se apropriar dos sabores, mesmo quando eu penso que não vão resultar (como aconteceu com o figo seco no ceviche que comemos na Páscoa), ou com os toques de wasabi no tártaro de ostra, e depois acabo com eles colados na memória. 
O “mergulho na ria”, é um arroz muito bom, que me conquistou com a magia daquelas ostras que eu adoro e, desde que voltei para Lisboa,  penso no regresso às Cabanas, para o comer de novo, já sem o bichinho da curiosidade, apenas com o conforto de saber que gosto e assim comer e apreciar em paz.

E qualquer dos tártaros, qualquer dos outros arrozes, qualquer polvo, qualquer coisa com a mão da Noélia, que também faz doces deliciosos, para quem chega ao fim da refeição com capacidade.  A mousse de figo a meias foi a nossa escolha repetida nesses dias. 

Boi-Cavalo, em Julho

É o restaurante a que mais gosto de ir, em Lisboa. É o restaurante onde quero que os meus amigos mais próximos vão e gostem.  Mas ainda não tinha levado lá a minha filha e foi com algum nervosismo que lhe anunciei:
- Vamos os dois jantar ao meu restaurante preferido!
 
Ela ficou interessada e  lá fomos os dois. Eu todo ufano, a levar a minha menina pelas ruelas, desde Santa Apolónia até à rua do Vigário, onde fica este Boi-Cavalo. Curta viagem, mas pela Lisboa autêntica, com Tejo, calçadas, cheiros variados, gritaria, casas velhas e ruas estreitas, onde a luz entra para sublinhar o tempo e avivar a memória. A Lisboa onde eu nasci.

No restaurante fomos bem recebidos, como sempre, e ainda por cima os primeiros a entrar, ou seja, abriram para nós . Como têm apenas o menu de degustação, não perdemos tempo com escolhas e foi só ir comendo, uma surpresa atrás da outra, até se chegar à sobremesa que, desta vez, foi o momento mais alto da refeição. 
E então, a minha filha disse: Tens de me trazer cá mais vezes! E ao dizer isto encheu-me de alegria e orgulho, por ver que cresce em tudo, até no seu palato.
O menu, muda com frequência e está sempre recheado de combinações inovadoras, que desde o primeiro dia me despertam a curiosidade e de seguida (quase sempre) agradam.
Os nossos destaques deste menu foram a canja com fios de chocos e amêndoas torradas (eles chamam-lhe sopa alentejana, mas eu acho que era canja) , o pão chinês com moelas e a sobremesa “chocolate branco, financier e gelado de ervilhas” que incluía uma telha de lemon curd de chorar por mais.
Paguei ,  agradeci  e saí  ouvindo as  palavras da menina, sobre o que tínhamos comido e já antecipando o regresso para breve. Seguimos pelas ruas até ao miradouro de Santa Luzia para ver a noite e o rio. Perfeito.

E por fim o Qosqo

Gosto muito de ceviche, como já escrevi em texts anteriores. Pois bem, aqui encontrei o rigor do peixe marinado com sumo de lima e aji, coberto com “cebolla morada” (a roxa) e acompanhado por camotes e choclo (batata-doce e milho)  como manda a tradição. Provámos ainda um Tiradito de Atum Nikei – fatias finas de atum, temperadas com molho de soja e óleo de sésamo.
Gostei muitos dos dois, e se estivessem mais frios estariam perfeitos, para mim.  
A lista tem muito mais coisas, que serão testadas nas próximas visitas, mas sempre com o olho no ceviche clássico, que tanto me agradou. 




 A Noélia diz que eu sou mais pelos sabores tradicionais e às vezes acho que ela tem razão, mas depois vou ao Boi-Cavalo, onde me deixo ir nas combinações que lá apresentam e provo tudo como se fosse um jogo, que eu sei que acaba bem.


  • Noélia - Av. Ria Formosa 2, Cabanas
  • Boi -Cavalo em Julho - R. do Vigário 70, Lisboa
  • Qosqo -  Rua dos Bacalhoeiros 26A, Lisboa

13/07/2016

Campeões da Europa de Futebol 2016


Desde o Verão de 1966 que esperava por uma vitória assim. Foram muitos anos a ver os outros erguer as taças, mas na verdade,  a pouco e pouco as seleções nacionais foram-se aproximando desse objectivo, que já estivera proximo, e já fora mais esperado que desta vez. Soube melhor também por isso.

A minha filha não se entusiasma com o futebol, e acho que por esse motivo quis ver o jogo comigo. Eu gosto muito mas, se possivel, opto por assistir sem distrações e evito os grandes grupos de gente entusiasmada, cuja existência agradeço e cujos festejos reconheço serem entusiasmantes e sinceros.

Quando a vitória desejada por fim chegou, já a menina não estava a ver e tive de a chamar, embora então os gritos de todos (do Minho a Timor) lho tivessem anunciado.



Para o jantar eu prometera ceviche e cumpri. Um pargo recomendado e escolhido pela Bela (no Mercado de Alvalade) que eu depois preparei cuidadosamente, removendo os filetes, tirando a pele, todas as espinhas e por fim partindo-o em pequenos cubos, que temperei com sal e ficaram a marinar durante uma hora, no sumo de três limas.
Na mesma altura cortei meia cebola roxa em fatias finas que foram descansar num banho de água gelada, que as suaviza um pouco e torna mais estaladiça. As outras preparações foram:
Aipo picado – 1 colher de sopa
Manga em juliana – 2 colheres de sopa
Coentros frescos – 1 colher de sopa

O frio é importante e guardo tudo no frigorífico até ao último instante.  

Na altura de servir arrumei o peixe num prato bem frio, espalhei por cima o aipo e a manga, reguei com o “leche tigre “, juntei 1 pedra de gelo e misturei. Depois cobri com as cebolas (já escorridas) e espalhei por cima os coentros picados. Evitei as malaguetas porque a menina ainda anda nos treinos , mas no meu prato deitei Tabasco Verde. 

Os pedaços de pargo estavam optimos. Com a consistência e o sabor que eu prefiro nos ceviches e que se consegue com uma estadia prolongada do peixe dentro do sumo de lima.  Para o sabor também contribui o sal que é indispensável neste preparado. Salgar abundantemente é uma recomendação normal nas receitas peruanas, isto porque a acidez da lima corta um pouco a potência do sal.
O ceviche foi servido com finas torradas de pão alentejano e desapareceu num ápice. 
Antes tínhamos comido uns belos figos com um belo presunto de bolota.
Durante o intervalo do jogo, estivemos entretidoscom um pica-pau de porco, a que eu juntei pequenos cubos de batata frita.  Também aqui houve pão para rapar o molho. 

Finda a refeição, dediquei-me ao jogo e o interesse da minha querida filha desvaneceu-se tal como ela, que por pouco perdia as emoções da entrega da taça. Também eu 50 anos antes me retirei do Portugal - Coreia aos 0-3 e só voltei com as comemorações do 3-3 que, como se sabe, chegou à vitória por 5-3. Então eu tinha 8 anos e não abandonei a pequena televisão a preto e branco, por falta de interesse mas sim por estar o ambiente no café do Sítio da Nazaré, após o terceiro golo dos microscópicos coreanos,  muito pesado para um pequeno espectador de calções na companhia do pai e do avô.