28/10/2017

Já está tudo em movimento

"Nenhum de vocês sabe cozinhar", disseram-nos logo numa das primeiras aulas. Eu sabia que era verdade, mas custou um bocadinho ouvir.

- Será mesmo assim? pensei durante uns breves minutos, e depois, disse para mim mesmo, que tinha tudo para aprender e o melhor era mesmo arregaçar as mangas (quando fosse permitido) e abrir bem as orelhas, para não perder nada.

Quero fazer tudo o que puder, sem atropelar ninguém, ajudar e ser ajudado em todas as disciplinas, esquecer o cansaço e como diz esse poeta que tanto estimo:

e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo
com o sorriso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
  

Sou um dos mais velhos na escola (professores incluídos) , mas já não o sinto, muitas vezes esqueço-o, até que se aproxima alguém tratando-me por você (já são poucos) ou propondo um aperto de mão complicado.

Tenho a meu lado pessoas com idade para serem meus netos, e  sei que todos juntos chegaremos ao (meu) primeiro objectivo. Parece ainda longínquo, quase inacessível, mas sei que vai acontecer. Refiro-me ao primeiro serviço para o Restaurante Aplicação da Escola. Para isso temos de trabalhar muito, mas na altura, com mais ou menos disparates, com mais ou menos atrasos, começarão a sair os pratos um por um para a sala....que ideia fantástica,  quase uma miragem ainda.

Vamos aprendendo lentamente. Vamos mudando por dentro. Crescendo todos. No saber técnico que era nenhum, no saber conviver, partilhar e colaborar, no saber ouvir , dar espaço, e fazer tudo, mesmo as  tarefas  menos apelativas, apenas porque tudo contribui para o resultado final.


Hoje fiz para o meu almoço, uma coisa que faço muitas vezes. Talvez o meu prato preferido. Arroz e peixe.
Fui mais rigoroso que o normal, pratiquei o que me vão ensinando, usei  as recentes facas, tirei os lombos pensando em apurar os gestos, em manter a limpeza, em organizar o espaço.

Claro que me atrapalhei um pouco , mas as ideias vão entrando.
A seguir, quando comecei a fazer o caldo onde depois haveria de cozer o arroz, invoquei o que a Noélia me ensinou sobre arroz de peixe.
Ando ainda à procura de me aproximar dela, e devagar vou dando passos nessa direcção.

Como havia separado os lombos, optei por cozinhá-los na frigideira, quase só do lado da pele, primeiro em azeite e depois juntando um pouco de manteiga que adoça os sabores. No final, umas gotas de limão, para ter algum contraste necessário.

O arroz, começa pelo azeite e pelo alho - como manda a Noélia - e só depois entra a cebola.
Do azeite, vem a cor final, e pouco mais se acrescenta, já que o sabor está no caldo - espinhas, cebola, alho francês , cenoura, gengibre, cardamomo, coentros em semente, sal e desta vez uma malagueta...

No último momento faço o que aprendi com o Brazil, via Neide Rigo, que na distancia me ensinou as virtudes do cheiro verde, e desde então que uso uma mistura de ervas - neste caso muitos coentros, um pouco de rama verde de cebola e umas folhas de hortelã.

A minha amiga recente Vivian Liu, acha  que eu não devo gabar as minhas obras, mas infelizmente comi sozinho e comi tudo. Para mim estava bom, digo



PS: na foto há pelo menos 2 problemas: os lombos não são iguais e a pele do primeiro, está um pouco (como direi....) arrebitada. Bem, isso da pele foi mesmo aselhice ao tirar da frigideira, mas os tamanhos diferentes, resultaram de estar a treinar e ao lombo grande , tirei as espinhas com a pinça apropriada (e nova), já  ao outro, fiz o corte pela linha das espinhas e guardei o resto do peixe para o jantar.

18/10/2017

Estou na EHTL

Depois de mais de 30 anos a cozinhar todos os dias, muitos livros de cozinha lidos. Depois de vistos muitos filmes com chefs e cozinheiros em geral, concursos, documentários e comezainas variadas. Depois de mais de 12 anos a registar "food related stories" no blog, estou a aprender coisas novas em cada aula e mesmo fora delas, com os amigos que por lá vou fazendo.

Para já nada sabemos, mas cada dia vamos avançando na direcção desejada. Aprender e deixar para trás o lastro de anos de cozinheira caseira. Aqui a história é outra e estou a gostar de a viver.

06/10/2017

Volto para a Escola

E agora, ou melhor, na próxima segunda-feira, entrarei todo lampeiro, pelas portas da Escola de Hotelaria de Lisboa, mas desta vez não é para almoçar. Vou estudar. Tirar o curso de Culinary Arts e assim dedicar os próximos tempos à culinária.

O que daí virá, não sei, nem me preocupa, isto é um dia de cada vez e o próximo está mesmo ao virar da esquina.