19/10/2014

Leitão assado na Rota das Sedas

Qual é o segredo? Foi a questão colocada pela jornalista ao Ricardo  Nogueira, que tinha assado os leitões nos fornos do restaurante Mugasa.
Uma pergunta comum mas sem sentido.
A haver um segredo, um toque mágico, um ingrediente definitivo, não seria por certo revelado e a verdade, que tem forçosamente de ser, muitos anos, muitos leitões, muita sabedoria, não interessa a quem assiste. O segredo é a morada da casa, ir lá e provar o leitão.

E eu que o comi em situação especial, num almoço dedicado à gulodice de quem gosta de leitão, que posso eu dizer? Escrever sobre a gulodice? Dizer que isto estava bom e aquilo mais ou menos?

Começámos a questionar o plural "pãezinhos" na lista, que resultou em singular no prato. Era um início discreto e singelo apenas no aspecto, uma promessa do que se seguiria,, e, ajuizadamente, ficou-se pela unidade.

Nem de propósito, momentos antes eu comentava com o Francisco, o motivo porque embirro com um Cozido servido em modo buffet.  Não resisto a um recipiente cheio de morcelas, a que se segue outro com farinheira e logo  o toucinho ou outro rebuçado qualquer. Falta-me bom senso para organizar a refeição perante tal liberdade.

Seria o mesmo ali, se me deixassem ir ter com um tabuleiro de pãezinhos e comer outro e outro. Felizmente fiquei quieto à espera do que viria. Foram iscas de leitão. Apenas boas.Quando me falam em iscas penso em sabores mais fortes e aquele fígado de animal jovem esteve bem e deixou-nos seguir em frente sem remorsos e sem olhar para trás.
Seguiu-se um sarapatel a que na região chamam cabidela de leitão e podem chamar-lhe o que quiserem, pois é coisa digna, de sabor suave e texturas variadas como se espera de pratos à base de miudezas.
Bebíamos espumante, vinho branco, vinho tinto, tudo da Quinta das Bágeiras que eu na minha ignorância desconhecia e de que muito gostei.  Foi assim que a festa chegou ao cerne. À sua razão de ser. O bicho. O milagre. A gulodice em tons maiores.
Com pequenos discursos e bonita encenação a separar a cabeça do bicho com um prato e sem uso de força. Mais importante foi que a dita cabeça, veio para a nossa mesa e aí desapareceu.

Parece que não devíamos ter deitado o belo molho sobre o estaladiço leitão mas deitámos e estava tudo tão perfeito e tão delicioso, que não sei como comer outro leitão assado sem pensar que esse nome se refere apenas a obra semelhante à que saíu dos fornos do Mugasa no passado dia 18.

Amén.