Gosto das circunstâncias, da realidade
colocada no seu lugar, das coisas simples, da proximidade.
Pode parecer estranho ter começado assim, para
vir falar sobre camarões (ou serão gambas?). Uns camarões muito frescos mas frágeis,
regionais e pouco comerciáveis, até pelas circunstancias.
Encontrei-os aqui no mercado das Cabanas,
pequenos, de um rosa pálido e com um ar delicado, tipo se me tocas desmaio.
Não se lhes pode mexer
muito, senão caiem as cabeças e por isso, alguns pensarão que se trata de
bichos de pouca confiança, quando na verdade o que eles são é sensíveis e têm
de ser tratados com carinho.
- Não
aguentam muito calor, disse-me a peixeira. Quando
lhe perguntei o preço do camarão ela corrigiu-me, dizendo que era galinha do mar(mas isso é um
peixe, acho eu!). Se calhar percebi mal, mas hei-de esclarecer o tema, até
porque fiz com eles um belo petisco, como a seguir se conta.
Na primeira tentativa, fugiu-me o pé para o
arroz, como acontece tantas vezes. Descasquei os bichos e com as cascas, uma cebola,
alho e louro, fiz um caldo, que coei aqueci até quase ferver. Então apaguei o
lume e juntei os camarões, para uma cozedura de lume apagado, durante 2 minutos. Retirei-os e provei.
Estavam cozidos, tinham uma cor rosa pálida quase branco e eram doces. Fiquei
contente. Mais tarde no arroz perderam um pouco do seu charme, pois a textura do
camarão ficou parecida com a do arroz. Pensei que mereciam melhor.
No dia seguinte voltei a comprar e pensei em
fritá-los. Com ou sem casca? Optei por uma coisa parecida com as gambas al ajillo,
mas adaptando a receita aqueles camarões quase metafísicos.
Descascados os bichos e postos a descansar no
frigorífico (que aqui está um calor de rachar) com umas pedrinhas de sal, levei
ao lume uma frigideira com bastante azeite e com o lume fraco fritei lentamente
dois dentes de alho fatiados. Quando o alho começou a chegar ao tom do caramelo,
tirei-o da fritura, temperei-o com sal e guardei. Para a frigideira entraram o
louro, e uma mão cheia de cabeças de camarão. Estas dariam o sabor, ao serem
bem fritas e depois espremidas até deixarem o azeite bem corado.
Para o nosso almoço, havia ainda um ceviche
tradicional de corvina – Corvina marinada em lima, com cebola, coentros e
abacate e por isso, fui acabar o ceviche e fazer torradas, antes de acabar os camarões
Para finalizar o “Ajillo” e depois de bem
espremido todo o óleo, levei de novo a frigideira ao lume para aquecer e aí fritei
os camarões 30 segundos de cada lado. Temperei com sumo de limão e coentros e
levei para a mesa.
O resultado, foi bem melhor do que eu esperava
e sou capaz de dizer, que é a maneira perfeita de os preparar, servidos em cima de fatias
finas de pão torrado, com o delicioso molho deitado abundantemente, a
suavidade dos camarões parece quase uma manteiga.
A breve fritura fica-lhes bem e aquele azeite de
fritar as cabeças é uma delícia.Só me falta saber mesmo o nome dos camarõezitos, já que esse de galinha do mar não me convence
...
Horas depois:
-Madalena queres arroz ou açorda de corvina?
- Pode ser açorda, pai.
E assim, com o caldo feito do resto das cascas dos camarões e das espinhas da corvina, mais meio lombinho que eu surripiara ao ceviche, um pouco de tomate, cebola, alho, 2 carcaças e um ovinho, fez-se e comeu-se uma açordinha bem boa.
Vidas em férias!
PS: ao que parece, percebi mal o que me foi dito. Terá sido "gambinha do mar" o que na verdade não é um nome. Qual será o nome destes bichos? Nos dias seguintes não voltou a haver - com vento não aparecem - disseram-me...
No comments:
Post a Comment