(para a Marília e o Rui)
Um primo resolve casar. Os noivos, ajuizados, optaram por uma coisa ligeira, sem atropelos ou grande etiqueta, para além do que recomenda o bom senso.
Um primo resolve casar. Os noivos, ajuizados, optaram por uma coisa ligeira, sem atropelos ou grande etiqueta, para além do que recomenda o bom senso.
Apareçam arranjadinhos e venham almoçar, lá na quinta da família. Para alguns, o recado tinha um pedido: podias
fazer uma entrada ou um doce…
E eu que viria do Algarve, com paragem breve
em Lisboa. apenas dormir e trocar de roupa, pensei no que poderia fazer, que se
pudesse preparar com antecedência e acabar na véspera do evento, sem grande ginástica ou nervosismo.
Saiu-me uma salada de batata, com pernil e língua
fumados, pepinos de conserva e vinagreta, e não saiu mal. A tigela com a salada, acabou tão perto do gaspacho,
que houve quem pensasse ser alguma modernice para o dito.
Mas adiante, que isso não é o assunto, apenas introdução.
Como sabe quem come o que faço ou lê o que escrevo, gosto de aproveitar,
sejam cascas de camarão, pão duro, queijo ressequido, raízes de coentros ou
qualquer caldo de cozer carnes ou legumes. Olho para eles e penso: isto ainda
dá qualquer coisa!
Foi o que pensei quando, terminada a longa cozedura, escorri os pernis e as
línguas fumadas, esses tais que acabaram em salada, no casamento, ao lado do gaspacho. Pensei apenas, pois os apertos horários não
permitiam delongas, e assim congelei o caldo, que hoje finalmente saiu da sua
hibernação, e voltou à vida.
Vou fazer um arroz. Com cenoura, couve e
feijão verde.
Seria vegetariano se não fosse o caldo. Seria
de cozido se tivesse as carnes. Seria arroz de forno se eu não preferisse um
carolino caldoso. Seria acompanhamento se precisasse de companhia. Seria risoto
se não fosse o que é, um malandrinho e saboroso arroz do caldo dos fumados que, noutros casos, poderia ter ido pelo cano abaixo.
Ai que me babo antes do tempo, eu que ainda
nem escaldei a couve!
Então faço assim:
Escaldo as folhas de lombardo já cortadas,
passo por água fria e escorro
Lavo, tiro o fio e corto o feijão verde. Raspo
a cenoura e corto em rodelas
Pico cebola e alho para o refogado inicial,
que será pouco puxado, pois o caldo tem sabor que chegue, porque além das carnes,
levou louro, cebola, alho e malagueta…
Depois de amolecer a cebola, junto o feijão e
a cenoura, junto o arroz, mexo, espero uns segundos até o arroz começar a
pedir que o molhem. Só então junto o caldo medido (2,5 vezes o volume do arroz)
e quente, junto a couve, mexo de novo e tapo (deve ficar mal tapado para sair
vapor). Coze durante 12 minutos e descansa 3 ou 4…
Nesta altura (ou seja, agora que escrevo) penso: umas gotas de vinagre? Ainda não sei a resposta. O vinagre acorda o palato,
mas rouba sossego e conforto.
Escrever é quase tão difícil como cozinhar, mas aqui, se quiser, ainda posso apagar o vinagre!
Contado já está, agora só falta fazer!
Que maravilha!
ReplyDeleteEu tenho a mesma queda por aproveitar tudo e mais um par de botas. Quanquer caldinho renasce mais tarde, quase sempre com esta companhia: arroz malandro e os legumes que haja por casa. Tenho cá um caldo de cozedura de uma cabeça de garoupa a pedir para sair do congelador e fazer companhia ao feijão verde e à abóbora que vieram hoje da horta.
Nem mais! E quantas vezes esses caldos se revelam a melhor parte do peixe ou da carne que cozinhámos. Por exemplo no caso dos camarões, as cascas que muitos deitam fora, têm todo o sabor que os bichinhos, vindos das poças da aquacultura, muitas vezes não revelam no prato.
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