Estou, uma vez mais, nas Cabanas com a minha filha. O tempo está bom, os barcos circulam, a Noélia continua a ser o melhor sítio para se ir comer e nos outros dias cozinho em casa, coisas simples, que agradem à minha filha (e a mim, claro). Vivemos nesta paz, feita de livros, sol, descanso e um ou outro filme. O belo pão desta zona está mais presente do que devia mas não há maneira de resistir. O peixe que aparece na praça nem sempre é o que eu queria, mas vamos comendo bem apesar de tudo.
Na terça-feira fui à procura de robalo, mas só havia daqueles de aviário e o ceviche que eu queria apresentar à Madalena, não pode ser feito com bicho tão falso, nem pensar...
- Este é o quê?
- Uma bica, é muito bom. Leve que vai gostar!
Eu não tinha dito qual o destino que esperava o peixe, mas a tal Bica tinha boa cara e boas cores, por isso veio comigo para casa. Ainda me faltava perceber como preparar o peixe com a triste faca que existe no apartamento, mas eram horas de ir para a praia e assim as preocupações (fracas) ficariam para mais tarde.
Neste embalar morno de sal e sol, fomos e voltámos. No entretanto, aproveitando a maré, tínhamos enchido uma garrafa pequena com conquilhas que iriam ajudar a compor um almoço de verão, prolongado, na varanda, a olhar os pinheiros e a escutar os pássaros, tudo convidando à profunda inação e possível sesta.
Já em casa lembrei-me da faca e fui afiá-la o melhor que pude. Quando a menina apareceu a espreitar sobre o meu ombro, perguntando o que ia ser
o almoço, eu lá disse que ia tentar fazer ceviche. Ela animou-se e eu com ela. Com fio na faca ou sem ele a Bica ia para ceviche.
Lá tirei o filete, depois as espinhas e por fim a pele. Tudo sem desperdícios, como convém
Temperei o peixe com sal e levei ao frigorífico. Cortei em meias luas finas a cebola (branca arraçada de roxa), temperei-a com sal e pimenta e continuei. Piquei um pedaço pequeno de gengibre fresco(que trouxera de Lisboa), piquei coentros e fiz o mesmo com duas boas rodelas de tomate coração de boi.
Então voltei ao peixe, que cortei em cubos pequenos, espremi o sumo de 1 lima, juntei tudo o resto (menos o tomate pois não o queria atropelado pelo sabor da lima) misturei e deixei no frigorífico por mais 5 minutos, tempo de levar ao lume a friigideira com azeite e alho para as conquilhas.
Antes de servir o ceviche, temperei o tomate com flor de sal, deitei-o por cima do resto e levei para a mesa com fatias de pão torrado. Pouco depois fui buscar as conquilhas e mais pão. Ainda houve figos com presunto. E a paz logo a seguir.
O resto do peixe e o que sobrou das conquilhas que eram muitas, foi para fazer uma açorda para o jantar, que com a inspiração dada pela açorda que comera na Noélia na véspera e os bons produtos daqui, ficou uma delícia para acompanhar uma Ferreira grelhada.
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