Quando alguém pensa em deixar de comer carne, há (julgo eu) em primeiro lugar motivos de ordem ética. "Meat is murder" como cantavam os Smiths nessa canção onde se diz:
Oh... and who hears when animals cry ?
Colocadas assim as coisas, lembro-me de quem me disse um dia "se os peixes gritassem a pesca era insuportável".
Deixar de comer carne ou deixar de comer animais? Os jainistas levaram esta ideia ao extremo, recusando destruir qualquer tipo de vida animal, o que originou a caricatura que era a sua representação, caminhando na rua com uma vassoura, que supostamente os impediria de matar, por distração, alguma formiga .
Ora hoje sabemos que a vida animal na sua versão mais reduzida está por todo o lado e é inevitável para a nossa preservação que, constantemente, formas de vida animal sejam postas em causa pelos nossos gestos mais simples. Também sabemos que (pelo menos) algumas plantas têm formas de comunicação o que deveria levantar questões...
Sobram as razões de higiene alimentar e aí a conversa cai em zonas cinzentas. Haverá sempre quem argumente para um lado ou para o outro. Seria mais útil promover a diminuição do consumo da carne em paralelo com regras claras de tratamento decente para os animais consumidos. Acredito que a vida dum frango de aviário é infinitamente pior que a vida dum touro desses que acabam numa arena, mas ninguém se manifesta contra esses campos de extremínio em massa que são os aviários...
Para que isto não descambe, avanço para as beringelas!
Há uns anos atrás estava eu num mercado biológico em Frankfurt e alguém me perguntou o nome dum fruto que víamos entre muitos outros vegetais e eu disse que era uma beringela. O vendedor meteu-se na conversa dizendo: Ya! brinjal.
Esse é o nome da beringela na Índia e é mais um exemplo das voltas que os nossos antepassados deram pelo mundo, levando e trazendo coisas e com elas levando e trazendo as palavras. Não sei quem copiou quem, sei que de Lisboa até Mumbai a distância é grande mas a palavra passou.
As beringelas são consumidas em muitos países e nalguns(por exemplo: Índia, Grécia e Egipto) têm lugar de relevo na gastronomia. É um fruto que tem de ser tratado devidamente e que, se assim não for, pode ser intragável.
Uma das melhores formas de o comer experimentei-a há muitos anos num saudoso restaurante de Lisboa chamado "Amendoa Amarga", que ficava ali para os lados do Príncipe Real e que, como mais tarde descobri, era da mãe duma amiga minha.
Na altura não sabia nada disto, mas aquela entrada que faziam com beringelas ficou-me na memória, muito antes das modernices culinárias que depois nos invadiram(para o melhor e para o pior)
Já reproduzi não sei se com grande rigor, mas com bons resultados, aquilo que aí faziam às ditas beringelas. Tratavam-nas como febras de porco! É assim que eu faço:
Corto as beingelas em fatias finas, deito-lhes sal e avançam para a grelha.
Uma vez grelhadas temperam-se com um molho feito de alho picado, salsa, azeite, sumo de limão e um pouco de pimenta(ou piri-piri). Nada mais simples.
Comem-se quentes e poucos terão saudades da carne nesses instantes.
Meat is murder? Passemos às beringelas, mesmo que com estas não se possam fazer sapatos.
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