Manda o figurino, que se interrompa a
preparação dos “Cozidos” durante os meses do calor, coisa que sempre me
entristeceu, principalmente porque não gosto de imposições. É triste chegar a
uma casa onde se come bem, perguntar pelo cozido como quem pergunta pela
família e responderem:
- nunca passa cá o verão, talvez lá para
outubro!
Mas afinal, é por essas e por outras que eu
aprendi a cozinhar, e se me negam o prato, vou a correr e faço-o. Além disso,
um bom cozido de grão, com feijão verde, um nadinha de tomate e se
possível algo de borrego, é coisa do verão, até porque rima.
Fiquei contente ao ler o recente escrito do LuísPontes sobre este tema e por isso, deixei que a gulodice dominasse.
Um cozido, mesmo de verão e mais ligeiro,
precisa de planeamento. Que eu saiba, não se vende carne de porco
salgada por aqui, é para isso é preciso começar dois dias antes.
Fugindo à tentação do exagero a que se seguem demasiadas sobras, comprei apenas um naco pequeno de barriga de porco e um chispe também pequeno. Cobri-os de sal grosso e
mandei-os descansar no frigorífico durante dois dias. Faz toda a diferença no sabor final das carnes e do caldo.
De enchidos usei apenas um chouriço de carne
alentejano (linguiça, dizem eles) e uma farinheira também do Alentejo, que, com
a excepção da morcela de arroz de Torres Novas, são os enchidos que mais gosto.
Lavei as carnes salgadas e cozi-as lentamente em
água aromatizada com cebola, cenoura e alho (estes sairão depois, porque ficam
quase desfeitos). A meio da cozedura entra o chouriço, já a farinheira fica para o final, pois coze rápido.
Cozidas as carnes e coado o caldo, volta este último para
o lume, com duas batatas, três ou quatro
cenouras e um tomate, por ser Verão. Quando os legumes estão quase cozidos, junto o
feijão-verde, o grão, que desta vez era de lata, as carnes desossadas e
partidas, bem como umas rodelas de chouriço(sem exageros) . A farinheira espera, para não se desfazer, nem ofuscar tudo com o seu sabor forte.
Costumo usar hortelã, mas como a inspiração
veio do Outras Comidas, usei a segurelha aí sugerida, que fica muito bem, e é
uma erva que muito estimo por me recordar a minha avó Celeste…
Comi este cozido com muito caldo, sobre fatias
finas de pão alentejano e soube-me a Verão, mesmo na falta de um pouco de
borrego, que ficaria ali a matar!
Pastéis de massa tenra com cozido de grão e arroz de beldroegas
E os restos? Sim, que um homem só, não dá
conta de nenhum cozido honesto.
Pois bem, parti tudo em pequenos pedaços, fiz
uma massa com 2 copos de farinha, 1 colher de sopa de banha de porco, umas
areias de sal e um copo metade água, metade vinho branco (não usei o líquido
todo).
Misturei farinha, banha e sal com as pontas
dos dedos até estar a gordura bem incorporada e fui deitando líquido até ter
uma bola homogénea. Descansou a massa no frigorífico durante 1 hora e depois
foi só estender, rechear e fritar.
Para acompanhar os pastéis, voltei a improvisar e fiz um arroz de beldroegas com o resto do caldo do cozido. E vivam as beldroegas
No comments:
Post a Comment