Normalmente venho com a minha filha, normalmente venho de comboio( no Alfa que sai de Entrecampos às 8:30) e normalmente a meio da viagem telefono para marcar mesa na Noélia. Fiz isso tudo, mas desta vez não havia mesa.
Ainda passei por lá para espreitar o panorama, mas quando vi tudo ocupado e 2 ou 3 pessoas à espera disse, para a minha companhia, que voltaríamos no dia seguinte, comer com calma e disfrutar de tudo:
- Ó pai, tu não costumas dizer que à segunda não há mercado?
Pois costumo e é verdade, mas se a Noélia abre a porta, é porque tem como servir bem os seus clientes, e além disso há muitas coisas que se podem comer para além do peixe acabado de pescar.
E assim contivémos a gulodice até ao almoço de segunda-feira.
Para abrir o apetite, fomos ver o mar, molhar os pés e todas essas coisas (que não são muitas mas são boas) que se podem fazer na praia antes de chegar o calor de andar em fato de banho a mergulhar de manhã à noite. Só depois é que rumámos ao almoço, para um desfile de iguarias desejadas(apetecia-me escrever "merecidas") .
Houve tapas de sardinha sobre pão torrado e de biqueirão com morango (uma delícia), houve uma sopa inesperada, com galinha, favas e quinoa, que nos levou numa pirueta gustativa, pois eu estranhei ver na lista a palavra quinoa (às vezes sou um bota de elástico, nestas coisas) mas quando a quinoa deslizou da colher para a boca, fiquei rendido àqueles sabores misteriosos, onde se juntavam o gengibre, a hortelã e as favas. Não sei porquê, fizeram-me pensar em segurelha ( isto também devia ficar bom com segurelha, disse eu à minha filha) e nas sopas de cenoura e feijão verde da minha Avó Celeste, que não sabia nada de estrangeirices.
Houve uns deliciosos carapaus alimados, dos quais eu já tinha saudades, vieram as inexplicáveis favas como só a Noélia faz - de acordo com as modas actuais, estas favas estão cozidas demais (comentei eu para a menina que as comia como se fossem caramelos), e isso só prova como a moda é passageira, mas as coisas realmente boas são eternas e parvos são aqueles que não percebem isto.
As doces favas da Barroca, já por si excelentes, chegam ao céu pela mão de quem as prepara sem se fazer rogada nos tempero, e sem medo de quaisquer modas. Como se soubesse tudo o que as favas querem. As melhores favas que alguma vez comi são estas!
E o ceviche?
Poucas palavras para este. O peixe fresco, branco e saboroso. O tempero, doce, ácido, original e equilibrado. Um ceviche excelente e diferente, o que é dificil de conseguir, pois quando se podia pensar (eu penso muitas vezes isso) que o ceviche se quer simples como manda a tradição, a Noélia consegue tirar da boca da minha filha estas palavras:
- Podia ter mais figo seco!
Pois é, figos secos no ceviche ficam muito bem, mas se apenas mo dissessem (em vez de o apresentarem já no prato e sem palavras, uma espécie de come-e-cala) eu desconfiado diria que talvez não. Mas afinal é mesmo sim, os figos secos ficam bem, e não são decoração, mas sim parte importante do prato. Agora quero comprar uns figos para levar para Lisboa!
Mais uma coisa sobre o ceviche - no entusiasmo nem me lembrei de tirar uma fotografia do prato que nos chegou lindo à mesa, mas a gulodice impôs-se e quando me lembrei só havia isto:
Tinhamos pedido também azevias fritas com açorda, mas não conseguimos comer mais, por isso vieram connosco para casa numa caixa de alumínio. Foi o almoço na Noélia a animar o jantar.
Fiz um singelo escabeche para o peixe, e a bela açorda só precisou de ser aquecida com uma piga d'água e um fio de azeite. Que bem se come por aqui.
Obrigado, Noélia
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