O meu Pai “gabava-se” de
nunca ter comido tomate cru e até tinha uma espécie de graçola com o meu Avô materno, a este propósito. O meu Avô dizia , por brincadeira, à minha Mãe que não tinha servido salada de tomate ao
meu Pai, ao que este respondia: Obrigado Pai Zuzarte, hoje não me apetece!
Assim começam estas
histórias das minhas comidas, que irão mostrar a maioria dessas minhas raízes na família
materna, gente de cozinhar e de comer bem.
O doce de tomate da Avó
Celeste(e da minha Mãe) era das coisas mais saborosas de sempre e para mim, na
versão ideal, apresenta-se num papo-seco barrado com manteiga, sobre a qual se
deita o doce. Quando este tem pedaços cristalizados é ainda melhor, mas isso
era no tempo em que os doces levavam muito açúcar, para assim durarem mais e
animarem refeições futuras.
Com tomate faz-se também
o arroz de tomate, uma das poucas coisas que eu tentava evitar – em vão, já que
o meu Avô dizia que tudo o que ia para a mesa era bom e para comer – pois a
minha Avó tinha por costume fazer esse arroz na sua versão seca.
No entanto viria do
tomate a solução para o problema. Por acaso, ou melhor, inevitavelmente,
descobri que aquele maravilhoso caldo que se forma na saladeira, mistura de
azeite, vinagre, sal e a água do tomate, quando deitado sobre o tal arroz
(seco) de tomate, dava-lha uma vida nova, à qual aderi de imediato. E assim
avancei.
O arroz de tomate
malandrinho é bom, mas o solto, de levar para o pinhal e comer horas depois é
uma coisa com memórias fundas e com o tal caldinho então, é um milagre.
Hoje, no dia-a-dia,
recordo mais o molho da salada, que o doce de tomate ou o arroz seco, e dou por
mim a comê-lo com pão. Também porque essa é a essência dos gaspachos de tomate,
as recordações têm muitos cantos de onde surgir.
Havia ainda nesses tempos passados, a calda de tomate que a minha Avó preparava, quando os ditos "pomodoros" amadureciam. Então fazia muitos litros da dita calda, que seria usada durante os meses do outono e inverno, nas comidas que necessitavam de tomate. Outros tempos, em que se comia apenas o que havia nas redondezas, mas isso acontecia de forma natural e não por principios morais ou ecológicos. Comer local era a regra e o único produto remoto era então o bacalhau.
Havia ainda nesses tempos passados, a calda de tomate que a minha Avó preparava, quando os ditos "pomodoros" amadureciam. Então fazia muitos litros da dita calda, que seria usada durante os meses do outono e inverno, nas comidas que necessitavam de tomate. Outros tempos, em que se comia apenas o que havia nas redondezas, mas isso acontecia de forma natural e não por principios morais ou ecológicos. Comer local era a regra e o único produto remoto era então o bacalhau.
Muito mais recente, é a memória
de ver a minha filha espantada com o bom sabor dumas rodelas grossas de tomate
coração de boi, temperadas com sal grosso, azeite e oregãos, comidas numa noite
de Agosto em Villablanca, nos arredores de Ayamonte:
- Pai, o que tem este
tomate que é tão bom?
Ela não se lembra, mas para mim foi emocionante
Ela não se lembra, mas para mim foi emocionante
A imagem veio do blog Chucrute com Salsicha
Obrigada por memórias que nos trazem as nossas próprias memórias (de tomate com sal na beira-rio em tardes de Verão, do molho da salada com pão e dos lanches partilhados que ainda proporciona de vez em quando). E obrigada por receitas que nunca comentei!
ReplyDeleteEm teoria, esta ideia das memórias associadas às comidas pode parecer um exagero e muita conversa para pouca coisa, mas na verdade, quando se começa a puxar pelas pequenas ideias, sai de lá mais do que se espera. Há mesmo memórias enterradas que reaparecem - neste caso foi a calda de tomate da minha avó...e obrigado por comentar.
DeleteTenho a certeza de que nos separam centenas de quilómetros e talvez uns anitos e que as nossas infâncias foram tudo menos parecidas mas daqui também recordo memórias do doce de tomate (que ainda faço) para gastar o excesso e de frascos cheios de molho de tomate cobertos com uma camada de azeite para se ir gastando de inverno, até porque por aqui só havia a 'loja' com produtos básicos cuja soma se ía apontando num livrinho e se pagava ao fim do mês, no dia do meu pai receber :)
ReplyDeleteNum país tão pequeno e que anda(va) a uma velocidade tão lenta, as memórias sobrepõem-se, completam-se e compreendem-se porque partilham muita coisa.
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