De tanto ouvir o
meu amigo Luís Ventura falar do "caspacho" da sua Vila Verde de Ficalho, já me
crescia água na boca, mas nada que me preparasse para os sabores com que essa "simples"
sopa fria se apresentou.
O Luís sorri
sempre que fala nos seus petiscos e isso é coisa que eu entendo muito bem, O amor
do que nos é próximo, da terra e da família, aliado ao conhecimento dos bons
productos e do tempo próprio para os usar, faz do mais modesto prato, uma
iguaria de trazer memórias, emoções e dar vida a quem já não está connosco.
Nesta caso, o Luís falou várias vezes de sua Avó e, como eu também amiúde sinto a presença da minha
enquanto cozinho, deixei-me levar nesse abraço e assim cheguei à mesa e aos
sabores do Verão no Baixo Alentejo.
O orgulho nos
productos apresentados no seu melhor, sendo neste caso o tomate quem tinha direito a destaque, é a base desta e de outras preparações.
Sem tomate bem vermelho do sol, nem vale a pena começar.
Mesmo o utensílio usado, uma espécie de pilão com a forma duma
maçaneta de porta, feito em madeira e a que se acrescentou um pau a fazer de
pega, mereceu a chamada de atenção do Luís.
Foi uma tarde de feriado muito bem passada, em boa
companhia, com boa comida e bebida, enquanto na rua tudo cheirava às sardinhas
do Santo António. Se à ida me fugia o pé para a sardinha, no regresso já
reconfortado, na minha cabeça ecoavam os sabores do nosso almoço e nada mais.
O "bate-bate", fora feito em Ficalho e imagino
que fosse cópia do que sua Avó usara vezes sem conta para fazer este mesmo caspacho e
outros pisos, adequados à tradição
culinária da região.
Foi pelo piso de
alho que a coisa começou. Depois de bem
esmagados uns quatro dentes de alho, juntou-se-lhes o (meio?) pimento verde em
cubos mínimos, igualmente esmagados com paciência e rigor. Depois foi a vez do
tomate - um inteiro a que apenas faltava a pele , também esmagado para fazer
parte daquela papa que ia tomando sabor.
A essa base
juntaram-se pequenos cubos de tomate, pepino e para surpresa minha batata
cozida, esta já em bocados de bom tamanho(ver a foto), pão duro alentejano em
pedaços irregulares, "beliscados" como diz o Luís, o vinagre e o excelente
azeite de Ficalho adicionados sem medo e com uma arte que deve ser genética,
pois aquilo que me parecia excessivo, acabou por ser o jóia da coroa, pois a
presença forte do tempero é fundamental para que, aquela espécie de salada de
tomate com água, atingisse toda a sua glória.
Eu levei uns
jaquinzinhos que depois de fritos fizeram boa figura ao lado do caspacho, e
isso tenho de agradecer à Bela, que tem sempre peixe de qualidade na sua banca em
Alvalade.
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