Para os meus companheiros desses dias: Manel, Carlos, Albano e Paulo
No
tempo em que um bilhete de eléctrico custava 1$00 e eu ia a pé ou à
"penda" para guardar esses dez tostões. No tempo em que gastava as solas
a jogar à bola, e ouvir telefonia era levado a sério. No tempo em que
comecei a sair de casa depois de jantar para ir ao café do Manel (quase
em frente à minha porta) para beber uma bica. No tempo dos primeiros
namoros, dos primeiros discos e da descoberta da pide e das ideias
proibidas.
Nesse tempo em que eu cresci e foi felizmente
interrompido e modificado pelo 25 de Abril de 1974, havia muitas coisas
que recordo com saudade e me fazem sorrir, mesmo se são consequência dum
modo pobre de viver, onde não se desperdiçava quase nada e tudo tinha
valor.
No
largo de S. Tomé, que fica perto do Castelo, no caminho entre a casa
dos meus pais e o "meu" Liceu Gil Vicente, havia (não sei se ainda há,
pois da ultima vez que aí passei decorriam grandes obras no edifício) um
daqueles cafés que tinha, logo à entrada, as famosas frigideiras das
iscas e das bifanas. O café metia-me algum medo, pois era frequentado
por homens duros e mal encarados, que se embebedavam a qualquer hora e
jogavam à chapinha frente à porta, na curva onde começa a calçada de
Sto. André. Tinha também aquele aroma que vinha das frigideiras em
estado permanente de fritura e algumas vezes entrei para pedir uma
sandes de molho, que me fazia companhia na subida da calçada da Graça.
A
dita sandes era apenas uma carcaça, aberta ao meio e mergulhada num dos
molhos à escolha. Não me lembro do preço, mas sei que era uma delícia
que, imagino, já não se sirva nesta cidade de turistas, comidas
embaladas e apertada segurança alimentar.
Não me vejo a cantarolar "oh tempo volta pra trás", mas tenho a certeza que as sandes de molho nunca foram fascistas
Julgo que as sandes de molho eram as verdadeiras "iscas sem elas "
ReplyDeleteSim, é isso ou uma versão melhorada do "pão com cheiro"
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