23/05/2013

Petiscos? in your dreams baby


Vamos comer uns petiscos? É uma pergunta frequente, mas depois da pergunta, quantas vezes a resposta é desoladora? Quase sempre?
Aparece um pouco de presunto, um queijo seco, uns rissóis de origem incerta e um cesto de pão.
É disto que falamos quando dizemos gostar de petiscos?
Eu acho que gostamos da ideia dos petiscos, imaginamos uma profusão de pequenos pratos a chegar de todo o lado mas como num filme mal focado, não os conseguimos ver bem, nem (por isso mesmo) identificá-los.
Depois a custo diremos: ovos mexidos com chouriço?

Na verdade nós não percebemos nada disto e por isso aceitamos qualquer coisa com algum “contentamento descontente”.
Os espanhóis têm tapas, gostam de tapas, defendem as suas tapas até à morte. Os gregos têm mezze, os turcos têm um “z” a menos e fica meze quase iguais às gregas como de resto acontece no Líbano e países vizinhos onde abundam os petiscos de consumo fácil como os molhos de iogurte, os kibeh, o hummus, as gourgettes recheadas, as azeitonas, os falafel etc. Têm, pedem, comem, defendem, exportam...
Nós recebemos travessas de enchidos industriais e queijo de plástico e temos inveja dos outros, mas falta algum tipo de entendimento para poder avançar.
Na fotografia, está uma "tapita" de cozido de grão, que eu fiz para uma refeição, mas que também poderia ser servido assim,  como fazem nuestros hermanos com tantos "guisos".
Alguém serve isto assim em Portugal? E se não o fazem, porque será?

Quando alguém(em casa, claro) nos apresenta algo que se assemelhe a pratinhos com comida lá dentro para petiscar, ficamos contentes, elogiamos a paciência e o empenho, mas raramente seguimos o exemplo.


Se for num restaurante, começamos por pensar que tavez vá ser uma roubalheira... e pouco depois o empregado já pergunta:
- posso levar a saladinha de polvo? Não querem os queijinhos frescos?
Nesta área os restaurantes vivem de excepções e onde tenho encontrado melhores "tapitas" não é nos que as anunciam e parecem viver delas, mas sim nos outros, nos tradicionais (alentejanos principalmente) que as servem como entradas. Mas entradas não são tapas!!! 

Entramos numa tasca (das antigas) e talvez haja bifanas e pastéis de bacalhau (mas isso não devia contar pois são individuais, não se partilham) , haverá tremoços, azeitonas e excepcionalmente um pouco de bacalhau assado e desfiado com azeite e alho (eh pá, esta última fez-me fome).
Não é nada mau, mas já é difícil de encontrar. 
Entramos numa tasca das modernas e na minha preferida ( a da rua das Flores) falta o petisco à vista para os olhos comerem embora existam muitos e bons na cozinha, noutras falta a variedade, a imaginação, a arte,  falta quase tudo e sobram as macacadas como o pica-pau com molho à base de cubo knorr, as gambas com alho que parecem ter acabado de fugir do congelador, os peixinhos da horta ensopados na gorgura de fritar por falta de jeito ou de calor no óleo, os croquetes como armas de arremesso, os rissois sem camarão, e acima de tudo falta alma.
 Eu gosto de sentir que quem me fez a comida gostaria de a comer e raramente sinto isso nestas Tabernas sejam elas Toscas ou não.

Pois é, fui a essa tal de Tosca e a única coisa que apreciei foi a gentileza de quem nos atendeu. Custa comer coisas más quando podia estar a comer bem em casa, e no fim pagar 40 euros para 2 por pratinhos de:

  • asas de frango picantes ( não tinham sal e o picante vinha à parte)
  • croquetes de alheira redondinhos mas péssimos
  • pica-pau com carne razoável e molho de pacote(?)
  • batatas fritas às rodelas
  • 1 leite creme
  • 3 imperiais
  • azeitonas e pão
  • 1 café

Tenham santa paciência. 

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