"Nenhum de
vocês sabe cozinhar", disseram-nos logo numa das primeiras aulas. Eu sabia
que era verdade, mas custou um bocadinho ouvir.
- Será mesmo
assim? pensei durante uns breves minutos, e depois, disse para mim mesmo, que
tinha tudo para aprender e o melhor era mesmo arregaçar as mangas (quando fosse
permitido) e abrir bem as orelhas, para não perder nada.
Quero fazer tudo
o que puder, sem atropelar ninguém, ajudar e ser ajudado em todas as
disciplinas, esquecer o cansaço e como diz esse poeta que tanto estimo:
e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo
com o sorriso admirável de quem sabe e
gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à
mostra
Sou um dos mais
velhos na escola (professores incluídos) , mas já não o sinto, muitas vezes
esqueço-o, até que se aproxima alguém tratando-me por você (já são poucos) ou
propondo um aperto de mão complicado.
Tenho a meu lado
pessoas com idade para serem meus netos, e sei que todos juntos chegaremos ao (meu)
primeiro objectivo. Parece ainda longínquo, quase inacessível, mas sei que vai
acontecer. Refiro-me ao primeiro serviço para o Restaurante Aplicação da
Escola. Para isso temos de trabalhar muito, mas na altura, com mais ou menos
disparates, com mais ou menos atrasos, começarão a sair os pratos um por um
para a sala....que ideia fantástica, quase uma miragem ainda.
Vamos aprendendo lentamente. Vamos mudando por dentro. Crescendo todos. No saber técnico que era nenhum, no saber conviver, partilhar e colaborar, no saber ouvir , dar espaço, e fazer tudo, mesmo as tarefas menos apelativas, apenas porque tudo contribui para o resultado final.
Hoje fiz para o meu almoço, uma coisa que faço muitas vezes. Talvez o meu prato preferido. Arroz e peixe.
Fui mais rigoroso que o normal, pratiquei o que me vão ensinando, usei as recentes facas, tirei os lombos pensando em apurar os gestos, em manter a limpeza, em organizar o espaço.
Claro que me atrapalhei um pouco , mas as ideias vão entrando.
A seguir, quando comecei a fazer o caldo onde depois haveria de cozer o arroz, invoquei o que a Noélia me ensinou sobre arroz de peixe.
Ando ainda à procura de me aproximar dela, e devagar vou dando passos nessa direcção.
Como havia
separado os lombos, optei por cozinhá-los na frigideira, quase só do lado da
pele, primeiro em azeite e depois juntando um pouco de manteiga que adoça os
sabores. No final, umas gotas de limão, para ter algum contraste necessário.
O arroz,
começa pelo azeite e pelo alho - como manda a Noélia - e só depois entra a
cebola.
Do azeite, vem a cor final, e
pouco mais se acrescenta, já que o sabor está no caldo - espinhas, cebola, alho
francês , cenoura, gengibre, cardamomo, coentros em semente, sal e desta vez
uma malagueta...
No último momento
faço o que aprendi com o Brazil, via Neide Rigo, que na distancia me ensinou as virtudes do
cheiro verde, e desde então que uso uma mistura de ervas - neste caso muitos
coentros, um pouco de rama verde de cebola e umas folhas de hortelã.
A minha amiga recente Vivian Liu, acha que eu não devo gabar as minhas obras, mas infelizmente comi sozinho e comi tudo. Para mim estava bom, digo
PS: na foto há pelo menos 2 problemas: os lombos não são iguais e a pele do primeiro, está um pouco (como direi....) arrebitada. Bem, isso da pele foi mesmo aselhice ao tirar da frigideira, mas os tamanhos diferentes, resultaram de estar a treinar e ao lombo grande , tirei as espinhas com a pinça apropriada (e nova), já ao outro, fiz o corte pela linha das espinhas e guardei o resto do peixe para o jantar.A minha amiga recente Vivian Liu, acha que eu não devo gabar as minhas obras, mas infelizmente comi sozinho e comi tudo. Para mim estava bom, digo
Fantástico, João Pedro! Como é bom perceber que não estamos sozinhos... Também sou autodidata e também cozinho diariamente (e apaixonadamente) há vários anos. E... também quero dar "aquele" passo que nos catapulte definitivamente para o lado profissional, deixando de vez aquela sensação de que nem somos carne nem peixe, ou seja: não somos simples amadores, mas também não somos cozinheiros profissionais. Por isso, lá vou em em breve para Tóquio, fazer um curso intensivo de quase 2 meses de cozinha japonesa! Não são fantásticas estas "partidas" que a vida nos prega? :)
ReplyDeleteForça nisso!
Rui Rosário
Agarrar a oportunidade foi o que fiz. Perceber que tinha tudo por aprender foi o que descobri. Andar em frente nesta aventura de saber mais (em técnica, em cultura gastronómica e no poder pensar diferente e com a liberdade que o saber traz) é o que me ocupa intensamente nestes dias de escola que vão durar até Fevereiro de 2019
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