Para trás ficou a idade dos porquês, a idade das
borbulhas, a idade do sabe tudo, a idade do “não te rales”, a idade de ser
sério e agora, acho que estou na idade de me emocionar.
Por quase tudo.
Até por uma coisa simples, deliciosa e tão tradicional,
como a bela caldeirada, com os seus vegetais básicos e peixes baratos. Com espinhas e peles. Com cuidado na seleção da cada ingrediente e sem modificar o que é perfeito.
No Peru têm uma coisa parecida, o sudado, ao qual, como nalgumas das nossas caldeiradas(mas não na minha),
juntam sempre líquido – vinho, cerveja
ou chicha de jora
, no Brasil a moqueca não anda longe, basta juntar o óleo de palma e lá vai a
caldeirada a caminho da América do Sul, e se no final entrarem o sumo de lima e
os coentros já se começa a escutar o sotaque e a pedir uma caipirinha.
Mas se for usado leite de coco e malaguetas sem medo, já
vamos para outras paragens Africanas ou Indianas. No entanto a base é sempre a
mesma, essa coisa milagrosa que é ter rodelas de cebola, tomate, um pouco de azeite
e peixe, a suar até estarem cozidos e produzirem esse caldo fantástico, que
aguenta batatas, arroz, massa ou pão.
Ontem foi arroz.
Feita a caldeirada, mas sem as batatas, tirei o peixe, para o limpar de espinhas, que voltaram para o tacho, para melhorar o caldo.
Depois de tudo bem coado, ficou um líquido cheio de sabores, que pareciam esvoaçar, entre o nariz e a boca, prometendo e dando, mais do que a lista dos ingredientes anuncia.
Nesse líquido cozi o arroz carolino, com caldo suficiente para ficar malandrinho. No final juntei o peixe, coentros picados e o sumo de meia lima.
Foi a panela para a mesa e depois de servir, olhei-te, esperando a aprovação...
Foi a panela para a mesa e depois de servir, olhei-te, esperando a aprovação...
Gostava de conseguir explicar melhor esta simplicidade,
que sinto como fundamental, mas o mais
que consigo é emocionar-me e cozinhar este e outros pratos cheios de passado, presente e futuro.
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