Desde o Verão de 1966 que esperava por uma vitória assim. Foram muitos anos a ver os outros erguer as taças, mas na verdade, a pouco e pouco as seleções nacionais foram-se aproximando desse objectivo, que já estivera proximo, e já fora mais esperado que desta vez. Soube melhor também por isso.
A minha filha não se entusiasma com o futebol, e acho que por esse motivo quis ver o jogo comigo. Eu gosto muito mas, se possivel, opto por assistir sem distrações e evito os grandes grupos de gente entusiasmada, cuja existência agradeço e cujos festejos reconheço serem entusiasmantes e sinceros.
Quando a vitória desejada por fim chegou, já a
menina não estava a ver e tive de a chamar, embora então os gritos de todos (do
Minho a Timor) lho tivessem anunciado.
Para o jantar eu prometera ceviche e cumpri.
Um pargo recomendado e escolhido pela Bela (no Mercado de Alvalade) que eu
depois preparei cuidadosamente, removendo os filetes, tirando a pele, todas as
espinhas e por fim partindo-o em pequenos cubos, que temperei com sal e ficaram
a marinar durante uma hora, no sumo de três limas.
Na mesma altura cortei meia cebola roxa em
fatias finas que foram descansar num banho de água gelada, que as suaviza um
pouco e torna mais estaladiça. As outras preparações foram:
Aipo picado – 1 colher de sopa
Manga em juliana – 2 colheres de sopa
Coentros frescos – 1 colher de sopa
O frio é importante e guardo tudo no frigorífico até ao último instante.
O frio é importante e guardo tudo no frigorífico até ao último instante.
Na altura de servir arrumei o peixe num prato
bem frio, espalhei por cima o aipo e a manga, reguei com o “leche tigre “, juntei 1 pedra de gelo e misturei. Depois cobri
com as cebolas (já escorridas) e espalhei por cima os coentros picados. Evitei as malaguetas porque a menina ainda anda nos treinos , mas no meu
prato deitei Tabasco Verde.
Os pedaços de pargo estavam optimos. Com a consistência e o sabor que eu prefiro nos ceviches e que se consegue com uma estadia prolongada do peixe dentro do sumo de lima. Para o sabor também contribui o sal que é indispensável neste preparado. Salgar abundantemente é uma recomendação normal nas receitas peruanas, isto porque a acidez da lima corta um pouco a potência do sal.
O ceviche foi servido com finas torradas de
pão alentejano e desapareceu num ápice.
Antes tínhamos comido uns belos figos com um belo presunto de bolota.
Durante o intervalo do jogo, estivemos entretidoscom um
pica-pau de porco, a que eu juntei pequenos cubos de batata frita. Também aqui houve pão
para rapar o molho.
Finda a refeição, dediquei-me ao jogo e o
interesse da minha querida filha desvaneceu-se tal como ela, que por pouco
perdia as emoções da entrega da taça. Também eu 50 anos antes me retirei do Portugal - Coreia aos 0-3 e só voltei com as comemorações do 3-3 que, como se sabe, chegou à vitória por 5-3. Então eu tinha 8 anos e não abandonei a pequena televisão a preto e branco, por falta de interesse mas sim por estar o ambiente no café do Sítio da Nazaré, após o terceiro golo dos microscópicos coreanos, muito pesado para um pequeno espectador de calções na companhia do pai e do avô.
Deixar o peixe "estagiar" na lima ou servir de imediato, a dúvida existencial do ceviche. Só batida por aquela do bacalhau cozido, se vai melhor com tinto ou branco :)
ReplyDeleteUm abraço e continuação de boas prosas!
Para mim tinto e estágio, mas o contrário estará bem para quem preferir assim, pois as regras só servem para ser quebradas. Obrigado
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