Tenho falhado nas escritas. Será do calor, da
praia, dos livros que tenho para ler…
Será tudo isso e a falta daquela chispa, que
me faz querer deitar cá para fora, coisas que me enchem a cabeça. No entanto estive nos meus 2 restaurantes
preferidos e ainda num onde nunca tinha ido antes, e é isso que tenho para contar.
Noélia, em Junho
Na semana final de Junho, fui várias vezes
almoçar à Noélia. Aí, eu e a minha filha, apenas praticamos o almoço. A luz é linda, o ambiente
é mais calmo, o stress ainda não fez vítimas, tudo corre melhor e por isso
sabe melhor.
Como eu e a menina vamos cedo para a praia, chegando ao meio-dia,
já um de nós se põe nervoso e a picar o outro para que se despache, naqueles
sacudir de toalhas, arrumar tudo e arrastar os pés na areia quente, até ao
barco, que nos leva sobre a ria, para chegar ao destino ansiado.
Chegando à mesa, ainda a sacudir sal e areia,
tudo é maravilhoso e irresistível a começar pelo conjunto pão, manteiga de
alho, cenouras à algarvia e azeitonas temperadas. Tentamos não comer para manter
intacto o desejo, mas é em vão, pois o aroma do pão é quem mais ordena. Vemos
passar os pratos, escutamos a Noélia, espreitamos as sobremesas, até que começa
o desfile de delícias.
Nesta semana comemos salmorejo, fritada mista
com migas de tomate, tártaro de ostra 1, tártaro de ostra 2, ceviche de robalo,
arroz de corvina e ameijoas (Vai pedir o arroz? julguei que já o sabia fazer! disse-me a Noélia, e realmente eu tenho uma
ideia, mas nunca chega àquele sabor), arroz negro com gamba vermelha, o novo e
já famoso mergulho na ria (comido e repetido), polvo frito com batata doce,
tártaro de atum e mais brincadeiras com os figos que a minha filha adora,
mojama, queijo, etc. Tudo coisas que já identificamos como os sabores da Noélia, a qual
tem essa magia de se apropriar dos sabores, mesmo quando eu penso que não vão
resultar (como aconteceu com o figo seco no ceviche que comemos na Páscoa), ou com
os toques de wasabi no tártaro de ostra, e depois acabo com eles colados na memória.
O “mergulho na ria”, é um arroz muito bom, que
me conquistou com a magia daquelas ostras que eu adoro e, desde que voltei para
Lisboa, penso no regresso às Cabanas, para o comer de novo, já sem o
bichinho da curiosidade, apenas com o conforto de saber que gosto e assim comer
e apreciar em paz.
E qualquer dos tártaros, qualquer dos outros
arrozes, qualquer polvo, qualquer coisa com a mão da Noélia, que também faz
doces deliciosos, para quem chega ao fim da refeição com capacidade. A mousse de figo a meias foi a nossa escolha
repetida nesses dias.
Boi-Cavalo, em Julho
É o restaurante a que mais gosto de ir, em
Lisboa. É o restaurante onde quero que os meus amigos mais próximos vão e
gostem. Mas ainda não tinha levado lá a
minha filha e foi com algum nervosismo que lhe anunciei:
- Vamos os dois jantar ao meu restaurante
preferido!
Ela ficou interessada e lá fomos os dois. Eu todo ufano, a levar a minha
menina pelas ruelas, desde Santa Apolónia até à rua do Vigário, onde fica este
Boi-Cavalo. Curta viagem, mas pela Lisboa autêntica, com Tejo, calçadas, cheiros
variados, gritaria, casas velhas e ruas estreitas, onde a luz entra para
sublinhar o tempo e avivar a memória. A Lisboa onde eu nasci.
No restaurante fomos bem recebidos, como
sempre, e ainda por cima os primeiros a entrar, ou seja, abriram para nós . Como têm apenas o menu de
degustação, não perdemos tempo com escolhas e foi só ir comendo, uma surpresa
atrás da outra, até se chegar à sobremesa que, desta vez, foi o momento mais alto da refeição.
E então, a minha filha disse: Tens de me trazer cá mais vezes! E ao dizer isto
encheu-me de alegria e orgulho, por ver que cresce em tudo, até no seu palato.
O menu, muda com frequência e está sempre
recheado de combinações inovadoras, que desde o primeiro dia me despertam a
curiosidade e de seguida (quase sempre) agradam.
Os nossos destaques deste menu foram a canja
com fios de chocos e amêndoas torradas (eles chamam-lhe sopa alentejana, mas eu
acho que era canja) , o pão chinês com moelas e a sobremesa “chocolate branco,
financier e gelado de ervilhas” que incluía uma telha de lemon curd de chorar
por mais.
Paguei , agradeci e saí ouvindo as palavras da menina, sobre o que tínhamos
comido e já antecipando o regresso para breve. Seguimos pelas ruas até ao
miradouro de Santa Luzia para ver a noite e o rio. Perfeito.
E por fim o Qosqo
Gosto muito de ceviche, como já escrevi em texts anteriores. Pois bem, aqui encontrei o rigor do peixe marinado com sumo de lima e aji, coberto com “cebolla morada” (a roxa) e acompanhado por camotes e choclo
(batata-doce e milho) como manda a
tradição. Provámos ainda um Tiradito de Atum Nikei – fatias finas de atum,
temperadas com molho de soja e óleo de sésamo.
Gostei muitos dos dois, e se estivessem mais
frios estariam perfeitos, para mim.
A lista tem muito mais coisas, que serão
testadas nas próximas visitas, mas sempre com o olho no ceviche clássico, que
tanto me agradou.
A
Noélia diz que eu sou mais pelos sabores tradicionais e às vezes acho que ela
tem razão, mas depois vou ao Boi-Cavalo, onde me deixo ir nas combinações que lá apresentam e provo tudo como se fosse um jogo, que eu sei que acaba bem.
- Noélia - Av. Ria Formosa 2, Cabanas
- Boi -Cavalo em Julho - R. do Vigário 70, Lisboa
- Qosqo - Rua dos Bacalhoeiros 26A, Lisboa