Estas viagens são feitas sem sair de casa,
quase a sonhar, resultam do passar do tempo, das saudades de tudo o que foi bom e
das pessoas associadas a isso. Para espicaçar a memória, os caminhos do palato
resultam bem para mim, mas não são o mais importante, são farois que assinalam
e recordam. Assim ando em frente.
Tenho aprendido muito nos almoços das
quartas-feiras, cozinhados pela turma de Culinary Arts, na Escola de Hotelaria
de Lisboa, ali para os lados da Estrêla. Aprendo, divirto-me, como bem, sou
surpreendido e tudo isto é apenas parte do aprendizado de uns já quase
cozinheiros que por ali vão crescendo.
Numa quarta-feira recente, lá estava eu a
almoçar (muito bem) com um amigo e, de repente, a sobremesa, onde ressaltava a
palavra Técula prometendo bolo alentejano, brilhou para além do esperado.
Se a Técula me fez fechar os olhos para
saborear melhor (como aprendi contigo) e o gelado de flor de sabugueiro parecia uma nuvem suave a deslizar, foi o pequeno “cigarro” de massa frita recheada, quem me levou para o terreno das emoções que “a razão desconhece”. Isso sim é
notável.
Comentei que o bolinho de forma e nome
desconhecidos era do mais Português que havia. Penso agora, que se estivesse na
Lua, vendado e me dessem a provar aquele doce, não teria dúvida em apontar-lhe a origem
nacional. E, mesmo correndo o risco de me enganar, nunca me enganaria, pois
milhares de outros como eu, diriam o mesmo, ainda que o doce pudesse ser de
Espanha, ou de outro lado com traços galaico-luso-judaico-árabe-peninsular no sangue.
E nesta viagem, não fui para nenhum lado em particular,
fui apenas para um Portugal de sempre, memória dos meus Natais torrejanos
cheios de gente e açúcar, coscorões sempre na mesa, quaisquer festejos de família, passeios de domingo e por fim
o Algarve, na Páscoa, antes da loucura do verão, as azevias que ainda hoje se
comem por lá.
Os ditos “cigarros” chamam-se Fáxios e logo
pensei no trocadilho óbvio: Faz-se-os! E fiz
Fiz umas azevias em formato pequeno, e depois
vi as fotografias do Pedro e percebi que estavam mal formatados os meus
pastéis. Agora hesito pensando nos próximos, mas acho que tentarei o modelo
original...
O recheio que fiz, juntou batata-doce, assada e
esmagada, com amêndoa ralada, gemas de ovo, e a calda de açúcar aromatizada com casca de limão e pau de canela.
Para a massa, fui ver receitas de azevias e
fiz uma massa que, para além da farinha, banha e azeite, levava raspa e sumo de
laranja e um calicezinho de Medronho. Misturei, amassei pouco e deixei a
descansar.
Para fazer os pastelinhos, tendi a massa,
cortei em rectângulo pequenos, recheei, fechei e fritei. Depois de escorridos,
passaram pelo tratamento obrigatório de açúcar e canela que os traz
irremediavelmente para perto do coração Português. Uma viagem fantástica, sem
sair do lugar.
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