É verdade que as figueiras precisam de ser limpas. Estão enormes, em grande parte inacessíveis, e nessa confusão selvagem de ramos e folhas, vivem pássaros, que depois comem os figos antes das pessoas. Mas são lindas as árvores assim, deixadas à sua vontade, e a sombra que dão é incomparável, como fica claro naqueles dias mesmo quentes do Alentejo.
Olhei-as como sempre, em busca de figos. Havia bastantes, quase bons para comer, mais uma semana e a passarada começará a tratar deles, deixando os buracos que lhes denunciam a gulodice. E eu que gosto de figos, a ver que nesse futuro breve não sobraria nada para mim, lembrei-me duma coisa que tinha comido na infância/juventude e nunca mais vira. Figos em calda. Uma coisa que se faz aos figos antes de estarem bons para comer.
Mesmo o que era preciso, para equilibrar as contas com a passarada.
Enquanto fazia o doce, ia pensando em quem poderia gostar de
tal coisa. Tu não, pois nem estavas lá e és alérgica aos figos. Os meus amigos
mais próximos achei que também não: o Pedro é famoso pela declaração: Eu
não gosto de doces! e não imaginei o Rodrigo a gostar daquilo. Talvez provasse um, dizendo que estava bom e não
voltaria ao tema nem ao objecto.
A minha filha por certo que sim, e entre os outros talvez mais
algum se interessasse. Mas como nessa altura não sabia sequer se aquilo ficaria
coisa capaz, fui em frente e pensando
nos sabores da memória e pouco mais.
A receita.
Comecei por apanhar os figos. Eram dos pretos, mas ainda estavam
meio verdes. Numa pesquisa na internet, tinha visto a indicação de que deveriam
ser escaldados, lavados e só depois cozinhados. Foi o que fiz. Escaldei-os com
àgua a ferver durante 1 minuto, depois lavei e sequei.
Entretanto tratei da calda onde os cozeria.
2 chávenas de açúcar
1,5 chávenas de água
casca de limão
1 pau de canela
5 grãos de pimenta preta (não sei porquê mas pareceu-me bem)
Levei tudo ao lume e deixei que começasse a fervilhar. Arrumei
no fundo da panela 1 camada de figos muito bem alinhados e deixei continuar a
fervilhar. Ao fim de meia hora, tirei um para provar e pareceu-me macio. Pouco
depois apaguei o lume e deixei que os figos e a sua calda arrefecessem. Uma vez
tudo frio, foi para o frigorífico.
Imagino que possam durar alguns dias, talvez uma semana ou
assim, pois a calda não era muito forte. Sei que se podem fazer para guardar,
mas tem de ser com mais açúcar.
Não cheguei a saber se durariam, pois ao contrário das
expectativas, todos gostaram, incluindo o
senhor que não gosta de doces, e comeram figo atrás de figo, com
gulodice e admiração pelo preparado. No fim quem menos comeu fui eu, que andei
a saborear os elogios.
Dentro do tema figos, fiz ainda o pudim aromatizado com as folhas da figueira, que já foi contado antes - aqui
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