Já fui a muitos restaurantes. Não fui a todos os que queria (nem perto disso) mas fui a bastantes para ter uma ideia do que pode acontecer.
Fui a restaurantes bons, outros maus, a maioria normais. Mas também fui a sítios de fugir, outros de voltar, sítios onde gostaria de viver e ser da família de quem cozinha, sítios que não entendi a razão para o dinheiro gasto, casas onde o propósito é estragar uma refeição a alguém, locais de arrogância, casas onde não sabem o valor que têm, restaurantes onde só por pensar neles se abre um sorriso no peito e outros que dão urticária. Sítios simpáticos, confortáveis, manhosos, memoráveis, irrelevantes, cantinas boas e más, tascas boas e más. Sítios onde tudo tinha de ser pedido e outros em que o numero de copos e talheres me fazia antecipar e temer o tédio. De tudo um pouco
Gosto de experimentar restaurantes. Uns dias gosto de ser acarinhado e noutros espero a surpresa, gosto do raro conforto maternal mas, se conseguirem ativar outras zonas do cérebro(que não as do amor e carinho) também podem, senão conquistar-me logo, pelo menos deixar a vontade de voltar para ver se o momento se pode repetir.
Li, no excelente Mesa Marcada, as palavras da Paulina Mata sobre eles e fui inoculado pela curiosidade. Investiguei mais um pouco e fui dar à Alexandra Prado Coelho e pensei 2-0 para este Boi-Cavalo, quero ir lá!
É assim, em impulsos, que nascem as desilusões, mas quando tal não acontece, sabe bem.
Convidei os amigos em função das minhas expectativas e levei os mais chegados. Faltaste tu por não estares em Lisboa, mas levei-te no coração e na conversa. Não sei se será bizarro demais para ti, mas sei que irás nem que seja pela minha companhia. Essa será a próxima visita.
Faltou o Bernardo por outros motivos, mas fica prometido assim que for possível e se ainda houver vontade,
Lá fomos, a Andrea, o Miguel e eu, um grupo que já fez outras excursões, à descoberta do Boi Cavalo.
De táxi desde o Chiado até à rua das Escolas Gerais, onde está um semáforo e a linha do elétrico curva para começar a subir no caminho que leva atá ao Largo da Graça. Na rua passou uma miuda de mini saia e botas pretas. O taxista disse: gosto das botas!
Saímos do carro e continuámos a pé (3 ou 4 minutos) pela rua das Escolas Gerais até à rua do Vigário. Hesitámos frente à porta, mas o número estava certo e era ali o Boi-Cavalo
Fomos recebidos por um sorriso. Boa ideia. pensei. E voltei a pensar o mesmo durante a refeição, pois esse sorriso salvou as falhas no serviço. As falhas não são importantes e o sorriso sabe bem, mas vinho branco fresco é importante, principalmente no Verão e a nossa garrafa só ficou com a temperatura certa no final da refeição.
A tábua de pão e manteiga foi bem recebida. Vínhamos com alguma fome e as manteigas de ovas de bacalhau e salsa eram deliciosas, tal como as bolachas caseiras e o pão.
Escolher uns pratos não foi fácil pois quase tudo era intrigante e apelativo. Devia ter pedido uma lista para agora poder escrever os nomes corretos, mas não o fiz e asim luto em vão com a memória.
Pedimos uns carapaus à espanhola com gel de Alvarinho que foi a única coisa que não voltaria a pedir. Não compreendi a consistência do carapau (curado em sal?) e o gel de Alvarinho desiludiu.
De seguida vieram lulas com "five spice" e tinta de choco e, se fosse um desenho animado, teria andado aos saltos pela casa até parar com um sorriso na cara. Delicioso e excitante. As texturas das lulas e da massa que as envolvia e fazia lembrar massa de farturas, ideia reforçada pela cobertura de especiarias, a espessa tinta de choco e os legumes que vinham com ela, o sabor de tudo aquilo junto ou separado, fazia sentido para mim, embora na mesa houvesse opiniões discordantes por causa das especiarias adocicadas. Eu fiquei aqui conquistado e nem na altura nem agora me recordo do carapau.
Veio o pato a baixa temperatura com um molho excelente, doce, ácido e crocante, vieram também uns lingueirões, que achei no limite do sal, com guiozas de açorda (ideia estranha, pensei) surpreendentemente deliciosas, veio o tartaro de carne de cavalo com flocos de bonito que tal como as lulas não teve unanimidade na mesa. Eu não gostei muito, achei seco e a precisar de algo que o acordasse, no entanto a A. e o M. gostaram.
Então o Miguel pediu pão para acabar com o molho do pato e a Andrea achou que tínhamos de pedir mais qualquer coisa para comer depois do intervalo do cigarro.
O pedido foi: bochechas de porco com pão frito e molho de caldeirada e ainda peixe espada preto com pepino e um molho que não recordo mas era muito bom, acho que tinha calda de cana...
Ainda chegámos às sobremesas e fizemos bem pois a torta de laranja deles é deliciosa, apesar de não se entender a dureza da "bolacha" de queijo de cabra, cujo sabor se adequa muito bem à torta, mas que se mostrou muito difícil de partir. A outra sobremesa falhou pois ninguém compreende um donut rijo e seco. Se prometem donut, espera-se uma coisa mole e macia e este era o oposto. Mas os sabores eram bons.
No fim digo que quase todos os pratos testados me (nos) agradaram, por serem bons e curiosos. Por não serem perfeitos. Por terem detalhes que não causam unanimidade mas agitam. Ocorrem palavras que não me apetece transcrever pois são redutoras. Fico-me pela sensação com que saí de lá e que foi um claro "quero voltar".