20/07/2013

Love is (not)all you need

Os americanos (e começo a ver o mesmo nos australianos)gostam de se lambuzar com o som da palavra love junto dos ingredientes que usam para cozinhar, como se fosse alguma coisa disponível ou armazenável.

Eu compreendo e sinto, que o amor é (pode ser)um elemento presente na mente de quem cozinha. O pobre cozinheiro descasca as batatas pensando no prazer que a amada terá ao comê-las, mas quantas vezes acontece que os/as destinatárias nem reparam...

Eu cozinho para pessoas. Para a minha filha com a maior ternura, curiosidade, esperança de agradar, de ensinar, de a ver progredir e isso é amor. Para os meus amigos mais chegados esperando surpreender, fazer coisas que sei que gostam e fazer melhor, sempre melhor. Para quem amo cozinho esperando emoções, esperando sorrisos, beijos  e elogios. Mas na verdade tudo isso acontece(quando acontece), depois.

Enquanto cozinho, enquanto descasco as batatas ou os camarões, enquanto preparo o caldo para o arroz ou tempero a farinha para passar o peixe, estou a pensar no resultado e na forma de lá chegar. E a pensar em quem vai comer, se irá gostar, se gostaria de outra coisa qualquer. Às vezes é confuso!

Será que desosso? Será que alouro? Cozeu demais ou está perfeito? Devo deixar em sangue? Terá ficado bem? Há sempre angústia e esperança, por vezes desilusão, mas tudo faz parte desse jogo.
No entanto não tenho esse amor em nenhuma gaveta, pertence ao processo, começa quando penso no que farei e acaba quando se levantam os pratos da mesa.

E  é  só para quem gosto

2 comments:

  1. Sempre assim, textos que dizem tudo. :)

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    1. Obrigado pelo comentário. É bom saber que há quem leia, mesmo quando não tenho receita...

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