03/04/2013

Risoto de lima

Como prometido, o texto é dedicado à Ana Gualberto e ao Virgílio Vargas, com a esperança de lhes fazer um risoto assim,  pois esta literatura, se não engorda é porque nos faz salivar em vão...  


Arroz.

A maior memória culinária que tenho do meu pai é o gosto pelo arroz e ainda hoje é raro o dia em que o não como. Arroz do lado do pai e pão do lado da mãe.
Claro que há muito mais coisas, mas estas duas marcam os meus dias desde que me lembro de abrir a boca.
Arroz de manteiga como então se chamava, ao carolino cozido cuidadosamente para ficar com aquela nata tão apreciada e como muitas coisas realmente boas, com uma duração curta. Fazer e comer de seguida que o carolino não se compadece com esperas.
Depois foram aparecendo outros arrozes e acredito que hoje as pressas condenaram a maioria ao consumo do agulha que sobrevive horas, pode ser aquecido e comido mais tarde, mas não tem um décimo da graça.

Mais tarde apareceram risotos, o basmati, o bomba das paellas,  o selvagem  e outros, novidades vindas de fora e subitamente ao nosso alcance por via das importações.
Ainda me lembro do primeiro risoto que comi, feito pelo meu irmão e cuja técnica a princípio me parecia demasiado complicada mas como tudo, aos poucos fui percebendo como se preparava e passei a fazer para consumo interno.

O problema do risoto é o mesmo do carolino. Não espera. Dá trabalho. Exige atenção. Mas vale a pena.

Anos depois de tudo isto, comi o primeiro risoto diferente. De lima com camarões. Foi na Bica do Sapato e deixou-me fascinado. Voltei lá para comer, já não era tão bom como recordava  e resolvi deitar mãos à obra. Fiz e  repeti até ficar satisfeito com o resultado e hoje, aquilo que parecia complexo é simples e fácil de recriar sem nervosismo nem receio algum.

Recentemente encontrei uns camarões que aparecem nalguns mercados à sexta-feira, vêm do Índico(não sei bem de que parte) e não chegam a ser congelados, são apenas cobertos de gelo, transportados e distribuídos rapidamente para consumo imediato. São frescos, cheiram bem e nem sequer são caros. Vale a pena aproveitar, pois não devem durar muito. Estes camarões levaram-me a fazer o tal risoto e é isso que agora conto

Risoto de lima


  • 1 cebola picada
  • 1 dente de alho picado
  • 500g de camarão 
  • 1/2  copo de vinho branco seco
  • 250g de arroz carnaroli
  • 2 limas
  • azeite
  • manteiga
  • sal
  • pimenta


Para o caldo

  • 1 colher de chá com caril em pó 
  • as cascas do camarão
  • 1 cebola às rodelas
  • 1 alho francês
  • 1 litro de água

A primeira coisa a fazer é descascar o camarão. Em cru e sem medo. Sai a cabeça, saem as patas, sai a casca. Camarões para um lado, cascas para o outro
Com as cascas faço o caldo.
Levo ao lume uma panela com 2 colheres de sopa de azeite e uma vez quente, deito as cascas do camarão para alourarem um pouco, junto a cebola às rodelas, o alho francês e pitada de caril. Tempero com sal e pimenta e  junto a água. Fervilha durante 20 a 30 minutos e está pronto. Coo e mantenho quente

Enquanto o caldo se faz, tempero os camaroes com sal, dente de alho picado e sumo de meia lima

Para preparar o arroz começo por suar a cebola picada numa mistura de azeite e manteiga _ 1 colher de sopa de cada - e antes que a cebola comece a alourar junto o arroz e envolvo bem,
Deite o vinho branco e espero que o líquido se evapore.
A partir daqui trata-se apenas de ir juntando conchas de caldo e ir mexendo até o arroz estar pronto.
Pronto quer dizer, cozido, não espapaçado nem com coração de giz ( ao trincar um bago fica a sensação de arroz encruado ou mal cozido).
Isto leva entre 25 a 30 minutos durante os quais se vai mexendo o arroz, não como quem nada para salvar a vida,  mas com calma, de forma continuada e sem grandes distrações.

Pelo meio disto convem saltear os camarões ( 2 minutos em lume forte devem chegar) em azeite com um  piripiri para animar.

No final junto ao arroz o sumo de (pelo menos) uma lima, de forma a que se note o sabor da mesma.  Nesta altura é correr para a mesa e comer antes que seque.

Nota: Este risoto não leva queijo





4 comments:

  1. João, como dizes, a descrição faz salivar. e não é pouco. um dia destes, quando estiver sozinho no sossego de avis, vou experimentar. nos entretantos, muito obrigado pela agradável dedicatória :-) com um abraço Amigo. vv

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  2. João, gostei da lembrança e da receita que nos dedicaste! Goste bastante de risotos e este é apelativo, a combinação lima e caril é apelativa. :)

    Beijinhos
    Ana Gualberto

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  3. João, tal como tu também sou mais arroz por parte do pai, e lembro-me bem do carolino de manteiga e principalmente do arroz doce que a minha mãe tão bem fazia.

    Aqui por Tirana também aparecem uns camarões não congelados que penso que vêem do Adriático, aqui ao lado, e que são bastante bons (mesmo que sejam de aqua-cultura.
    Uso-os com frequência, pois além da qualidade/tamanho o preço é bastante acessível, assim tenho feito alguns de caril (várias qualidades que a minha mulher trouxe da Índia pois cá é coisa que não se encontra), grelhados com piri-piri ou em risoto.
    Nem de propósito uma das receitas que mais uso é muito semelhante a esta que tão bem descreves, só encontrei três pequenas diferenças. 1 - O arroz que uso é um arborio da Gallo que também já usava aí. 2 - Só junto a manteiga no fim já depois de apagar o lume. 3 - Ao temperar os camarões além do sumo uso também raspa da casca da lima.

    De resto é tal e qual a tua receita.

    Também gostava de experimentar o arroz carnaroli mas apesar de aqui encontrar uma variedade enorme de qualidades de arroz (turcos, gregos, italianos e até português)ainda não encontrei esse que é considerado o melhor para risotos por ter menos amido.

    Um abraço e boas receitas
    Zé Teixeira

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  4. Opss..- falha grave no meu comentário. Faltaram dois abraços e um beijinho, respectivamente para o teu irmão, o VV e a Ana G.

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