quantos anos levou a fritura
e o arroz de feijão
que primeiro pensei recusar,
mas por dentro alguma coisa conspirava
história sem ouro
história sem ouro
ou guerra maior
que a fome
apaziguada
apaziguada
quantos anos levaram todos os galegos
descendo a pé deste arosa até lisboa
pra vender vinho ou carvão
e dar-nos o pão à boca,
num português
e dar-nos o pão à boca,
num português
onde o X se faz mais do que é
construíram a maior costela do nosso esqueleto
alimentar,
e nada disseram do lacón con grelos
e nada disseram do lacón con grelos
hoje
choramos de saudade por tudo o que fica para trás
choramos de saudade por tudo o que fica para trás
saudade antecipada ainda
saudade inevitável
quantos anos levou a fritura
do rissol
do carapau
do filete de pescada
do pastel de bacalhau sem queijo
do amor
nos renovados restos que alimentam a família
Penso tantas vezes:
a minha Mãe fazia bifes a contar com os croquetes
sei que é aí que vou ficar
e adormeço embalado por conversas sobre migas
raia alhada
ou sopa de feijão verde com segurelha
no Verão dos meus Avós
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