E assim acabou o 2º semestre do curso.
Aquilo que
de início parecia longínquo, está a acontecer diariamente.
Agora seguem-se 2 meses de estágio, que no meu
caso, será num sítio que muitas vezes louvei, o restaurante Boi-Cavalo em Alfama. Passar de cliente para
cozinheiro ainda parece um sonho, mas já é quase a realidade, pois começo dia 15.
Entretanto, dos muitos exames que fiz, um destacou-se,
pelo gosto e empenho que senti e nele apliquei.
Foi longo, cansativo e, em meu entender, um sucesso, seja qual for a
nota que venha a ter.
Tínhamos 2 provas
para completar. Na primeira, era-nos imposto o pato e na segunda bacalhau. O
prato de bacalhau tinha de ter sabores Portugueses, e se fosse a reprodução dum
prato tradicional, deveria ser rigoroso, já o pato da manhã era do género prova
livre, em que cada um fazia o que muito bem entendesse.
Para esta (a do
pato), porque imaginei que teríamos uma profusão cansativa de "magret de
cannard ", fui pesquisar e tropecei
num "Pato acebichado" que me atraíu. Parecia diferente, e apesar de
convidar ao logro, pelo uso da palavra ceviche, que fez alguns perguntarem se
iria ser pato cru, era um prato simples de pato na panela, marinado numa
quantidade grande se sumo de citrinos.
Fiz um teste em
casa substituindo os ajis (mirasol e amarillo) por mini pimento amarelo e
malagueta e as "naranjas agrias" por uma mistura de sumos de laranja
e limão. Sem jamais ter experimentado o prato original, fiquei contente com o
resultado do teste e decidi ir por essa via. Acompanhei com batata doce, por
ser um acompanhamento frequente no Peru e além disso um que me agrada bastante.
Durante a prova,
cada aluno tinha direito a 1/4 de pato e eu escolhi uma das pernas. Com o resto
do meu pato e uns pedaços recolhidos entre os colegas, fiz um caldo, que levou
os suspeitos do costume. Cebola,
cenoura,aipo, alho, louro, sal e pimenta , a que depois se juntaria uma Sagres
mini (comprada no café em frente à escola). O prato peruano leva "Chicha
de jora", uma bebida típica, feita de milho, sendo a cerveja, um substituto possível. Pareceu-me
que o travo amargo era excessivo e quando voltar a fazer este p(r)ato usarei
vinho branco.
Marinei a perna
com o sumo de 1 laranja a que juntei 1 limão (para dar o toque ágrio), 1 colher
de chá com cominhos moídos, pimenta, colorau, malagueta em pó, 1 cebola picada,
1 dente de alho. Ficou assim por 30 minutos, enquanto fazia o caldo e preparava
a batata doce que descasquei,
torneei e branqueei para no final, antes
de servir, saltear.
Uma vez marinada
a carne, escorri o líquido e alourei a perna em azeite e manteiga. Feito isto,
juntei um pouco mais de cominhos, 2 mini pimentos amarelos e toda a marinada,
para que o conjunto cozinhasse tapado durante 30/35 minutos. Quando senti a
carne macia, retirei-a e juntei um copo cheio do caldo antes preparado e que
incluía a cerveja. Seguindo as instruções, acrescentei 1 cebola roxa (ou "morada"
como se diz por lá) cortada em rodelas finas, e mantive ao lume por mais uns 30
minutos. No final, antes de servir, a carne voltou para a panela e, uma vez
tudo à temperatura desejada, empratei e servi.
Nesse altura
cometi um erro que depois o Chef sublinhou. O molho devia ter sido servido
apenas à mesa, para não se espalhar pelo prato (como sucedeu), "mas está bom..."
foi o comentário final.
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comentário do tipo "está bom" é o objectivo de todos nós, e qualquer
extra pode ser a glória ou o desânimo, mas nada mais ouvi e retirei-me com um
sorriso. O meu prato da manhã foi feito de acordo com as minhas expectativas.
Seguiu-se o bacalhau.