Depois de muitas comidas por contar,
venho aqui relatar um simples empadão. Coisa vulgar, com ingredientes
vulgares, para se comer sem preocupações ou etiquetas, na mesa da
cozinha, no jardim ou até na praia.
Um empadão frio, ainda por cima.
Um empadão recheado muitas vezes com
atum de lata, ou com restos de frango ou carne assada.
Uma coisa tão improvável, que mesmo
depois de ler receitas e ver os videos, nada me convencia a dar-lhe
atenção, até que um dia o provei, no restaurante Qosco, ali para
os lados do Campo das Cebolas, onde o servem num trio que inclui o
ceviche e o tiradito.
Provei e gostei.
Havia muito mais do que eu esperava,
era mais que um empadão frio... tinha abacate e muito sabor de lima.
Tinha um picante perfumado e ligava muito bem os restantes petiscos que então me serviram.
Voltei às receitas, vi videos, atentei
nas variantes e na história e decidi tentar o básico. A “causa
limeña”, que parece dever o seu nome ao desejo das habitantes de
Lima em colaborar na frente de batalha, que opôs o Peru ao Chile –
a guerra do Pacífico, em finais do século 19. Para apoiarem a
causa, criaram este prato que, por ser frio e compacto, podia ser
transportado para a frente de combate. Não sei se é verdade, mas
serve bem como história para este prato surpreendente, que tem
marcado o nosso Verão e feito as delícias dos muitos que provaram a
minha versão da dita receita.
Verdade seja dita que dois dos
ingredientes que as receitas referem – papas amarillas e aji limo –
não tenho, nem sei onde poderia encontrar. Tenho usado sempre as batatas doces de pele arroxeada
e massa amarela e, em vez do dito aji uso um pouco de malagueta
vermelha fresca, mas sendo este um típico prato caseiro, as
variantes são muito aceitáveis.
As batatas deverão ser assadas (pode
ser no microondas) para não ficarem aguadas. Depois esmago-as muito
bem e tempero com sumo de lima , alho, malagueta e azeite.No peru referem a necessidade de esmagar criteriosamente as "papas" até ficarem muito macias, mas tenho sempre descurado estes cuidados.
Para 1Kg de puré, desfaço com a
varinha mágica, 1 dente de alho e meia malagueta sem as sementes.
Junto sal, sumo de 1 lima e 3 ou 4 colheres de azeite. Uma vez tudo bem desfeito, misturo este tempero com as batatas e normalmente acabo por adicionar mais sumo de
lima e alguma pimenta preta. O puré não deve ficar azedo mas deve
perceber-se bem o sabor da lima, que é uma das suas características.
Para o recheio de atum, misturo uma
lata grande (escorrida e desfeita), com cebola roxa picada, coentros
e maionese (para ligar).
Além deste recheio, deve também haver
uma camada de abacate cortado em rodelas generosas e regado com sumo
de lima, para não escurecer.
A causa deve ter uma camada de batata,
a mistura de atum, as rodelas de abacate e outra camada de batata.
Todas as variantes são possíveis (usar adicionalmente tomate em
rodelas, alface, pepino, manga... outros recheios em vez do atum –
causa de frango, causa de camarão, de caranguejo etc. A ultima que
fiz levou um recheio onde o atum foi substituído por carne de porco
assada e partida em cubos e foi um sucesso. Já lhe juntei guacamole
(que sobrara do pequen almoço e ninguém se queixou.
Serve-se bem fria e por isso é
preferível fazer de véspera e deixar no frigorífico para
consolidar.
Tenho-as feito em caixas tipo tupperware, forradas com plástico aderente e assim o processo
de desenformar, fica muito facilitado.Depois de compactar bem sem esmagar, vão ao frio por algumas horas, bem tapadas com mais plástico e se necessário, com um peso em cima.
Depois de desenformada a causa, pode
ser enfeitada com mais maionese, ovos cozidos( como a da foto, que ainda levou sumac), tomate , abacate ou
servir-se sem mais nada.
Esta é uma boa causa e merece atenção,
por ser prática, deliciosa e surpreendente.